Aqui vai o mito grego eco e narciso:
Eco e Narciso
Pelo mito ficamos sabendo que Narciso era filho do rio Cefiso e da ninfa Liríope, nome que lembra uma flor, o Lírio. Pois bem, dessa união do rio com a flor do Lírio nasceu o jovem Narciso, considerado o mais belo dos mortais. De uma beleza nunca vista, Narciso tornou-se a paixão de todas as jovens da Grécia. Até mesmo as ninfas, divindades ligadas aos elementos da natureza e conhecidas por sua formosura, estavam irremediavelmente presas à beleza de Narciso. E, dentre estas, Eco uma jovem ninfa conhecida por sua tagarelice.
Zeus, o imortal deus do Olimpo gostava de dar suas escapadas amorosas pelo mundo dos mortais, atrás de belas jovens. Casado com a ciumenta Hera que o vigiava constantemente, pediu à ninfa Eco que distraísse sua esposa com sua conversa, enquanto ele descia à terra para mais um de seus encontros amorosos. Hera, que não era boba e conhecia o marido que tinha, percebeu a artimanha e castigou a ninfa, condenando-a a não mais falar: repetiria tão-somente os últimos sons das palavras que ouvisse.
Mas, era verão e a jovem ninfa estava apaixonada por Narciso, que partira com alguns companheiros para uma caçada nos bosques. Sem se deixar ver, Eco seguia o amado, ansiando por ele. Acariciando o amado com seu olhar, Eco perscrutava-o intensamente, como que querendo sorvê-lo aos turbilhões, tentando captar o segredo daquele sentimento, daquela paixão.
Alheio aos sentimentos despertados em Eco e tendo-se afastado dos amigos, Narciso começou a gritar por eles ouvindo em resposta o som de sua própria voz a ecoar pelas montanhas afora… A apaixonada ninfa, castigada pela Deusa Hera, não podia falar! Eco ouvia a voz de seu amado, mas não podia lhe falar e, sem a possibilidade do encontro, entristecida, sentindo-se rejeitada por Narciso, a jovem deixou de se alimentar, definhando até transformar-se em uma rocha. Capaz apenas de repetir os derradeiros sons do que ouvia. As demais ninfas, condoídas com a sorte de Eco e irritadas com o que consideravam uma insensibilidade por parte de Narciso, pediram vingança a Nêmesis. E a deusa da justiça distributiva o condenou a amar um amor impossível.
Numa tarde de verão Narciso, sedento, aproximou-se da límpida fonte de Téspias para mitigar a sede. Debruçando-se sobre o lago que formava um espelho imaculado, ele viu-se refletido nas águas e apaixonou-se pela própria imagem. Não conseguindo mais se afastar da própria imagem, morreu de inanição, tal qual a ninfa Eco. Em seu lugar foi encontrada uma delicada flor amarela, com o centro circundado de pétalas brancas. Era o Narciso.
terça-feira, 8 de junho de 2010
sexta-feira, 4 de junho de 2010
A origem de Roma
Olá pessoal aqui vai a lenda de Rómulo e Remo, os fundadores de Roma.
A ORIGEM DE ROMA
No ciclo “troiano-latino” o fundador da cidade, Rómulo, terá sido um descendente do herói troiano Eneias. Eneias era filho de Anquises e de Vénus.
Depois de ter combatido valorosamente na defesa de Tróia, vencido pelos Anqueus, fugiu da sua cidade natal juntamente com a mulher Creusa, o filho Ascânio e o seu velho pai. Após várias peregrinações pelo Mediterrâneo, aportou à Costa do Lácia. Aqui Ascânio (filho de Eneias), terá fundado a cidade de Alba Longa e sido o seu primeiro rei.
A contenda pela sucessão ao trono de Alba Longa terá dado origem à série de acontecimentos que terminaram com a fundação de Roma.
No início do século VIII a. C., os dois filhos do rei Proca, Numitor, o legítimo herdeiro do trono, e Amúlio, disputaram a sucessão ao trono. Amúlio, não só destronou Numitor, como o privou de descendência, obrigando a sua filha, Reia Sílvia, a entrar no grupo das Virgens Vestais, que eram votadas à castidade. O deus Marte, apaixonado por esta, uniu-se-lhe e fez com que ela gera-se dois gémeos, Rómulo e Remo.
Nas suas veias corria o sangue de Eneias e a sua descendência provinha de Marte e Vénus.
Ao nascerem, Amúlio, lançou os bebés às correntes do rio Tibre, para que as suas águas engolissem aqueles que um dia poderiam tornar-se perigosos rivais. Mas, as águas devolveram os gémeos a terra, no sopé do Platino, sendo encontrados por uma loba que os amamentou.
Um pastor do lugar, Fástulo, recolheu-os na sua habitação até à idade adulta.
Já adultos, Rómulo e Remo, tomaram consciência, por forma causal da sua ascendência real, voltaram a Alba Longa, destronaram Amúlio e reconduziram Numitor ao trono.
Depois disto, com um grupo de homens de Alba Longa, voltaram ao sopé do Paladino para aí fundarem uma nova cidade.
Dada uma sentença de arúspice ( a prática pela qual se davam auspícios a partir das vísceras dos animais ou de outros fenómenos da natureza), Rómulo foi desafiado a dar o próprio nome à cidade futura e tornar-se rei.
Como usual, os limites da cidade, terão sido traçados por um arado conduzido pelo fundador. Essa linha (pomério), tinha carácter sagrado, e quando Remo, por escárnio e raiva para com o irmão, a violou, Rómulo matou-o (21 de Abril de 753 a. C. segundo a tradição).
A ORIGEM DE ROMA
No ciclo “troiano-latino” o fundador da cidade, Rómulo, terá sido um descendente do herói troiano Eneias. Eneias era filho de Anquises e de Vénus.
Depois de ter combatido valorosamente na defesa de Tróia, vencido pelos Anqueus, fugiu da sua cidade natal juntamente com a mulher Creusa, o filho Ascânio e o seu velho pai. Após várias peregrinações pelo Mediterrâneo, aportou à Costa do Lácia. Aqui Ascânio (filho de Eneias), terá fundado a cidade de Alba Longa e sido o seu primeiro rei.
A contenda pela sucessão ao trono de Alba Longa terá dado origem à série de acontecimentos que terminaram com a fundação de Roma.
No início do século VIII a. C., os dois filhos do rei Proca, Numitor, o legítimo herdeiro do trono, e Amúlio, disputaram a sucessão ao trono. Amúlio, não só destronou Numitor, como o privou de descendência, obrigando a sua filha, Reia Sílvia, a entrar no grupo das Virgens Vestais, que eram votadas à castidade. O deus Marte, apaixonado por esta, uniu-se-lhe e fez com que ela gera-se dois gémeos, Rómulo e Remo.
Nas suas veias corria o sangue de Eneias e a sua descendência provinha de Marte e Vénus.
Ao nascerem, Amúlio, lançou os bebés às correntes do rio Tibre, para que as suas águas engolissem aqueles que um dia poderiam tornar-se perigosos rivais. Mas, as águas devolveram os gémeos a terra, no sopé do Platino, sendo encontrados por uma loba que os amamentou.
Um pastor do lugar, Fástulo, recolheu-os na sua habitação até à idade adulta.
Já adultos, Rómulo e Remo, tomaram consciência, por forma causal da sua ascendência real, voltaram a Alba Longa, destronaram Amúlio e reconduziram Numitor ao trono.
Depois disto, com um grupo de homens de Alba Longa, voltaram ao sopé do Paladino para aí fundarem uma nova cidade.
Dada uma sentença de arúspice ( a prática pela qual se davam auspícios a partir das vísceras dos animais ou de outros fenómenos da natureza), Rómulo foi desafiado a dar o próprio nome à cidade futura e tornar-se rei.
Como usual, os limites da cidade, terão sido traçados por um arado conduzido pelo fundador. Essa linha (pomério), tinha carácter sagrado, e quando Remo, por escárnio e raiva para com o irmão, a violou, Rómulo matou-o (21 de Abril de 753 a. C. segundo a tradição).
quarta-feira, 2 de junho de 2010
A Lenda do Sepulcro Caiado
A Lenda do Sepulcro Caiado
Muitos são aqueles
que contam que
um dia , numa pequena terra
que uma mulher que era torturada pelo marido quando ainda estava grávida. A mulher vivia no covis de Down Sunney, um bairro mágico extremamente miseravel. O seu marido era mágico.
Deseperada devido ser constanemente espancada pelo marido fugiu. Teve a criança numa pensão.A dona desta ajudou-a ao ver a situação dela.
Passaram-se anos e o pai do bébe descobriu a localização da mulher e do filho.Ameçou-a.Mesmo sendo ameaçada das mais terrivéis maldições.Ao proteger o seu filho a pobre mulher morre.
A criança acabaria por ficar com o pai com 5 anos de idade.
O menino lembrava-se da mãe muitas vezes. O pai pos o menino num sepulcro caiado de branco
onde só era alimentado de vez em quando. Os anos foram passando e o rapaz continuava enterrado vivo magicamente.
Um dia o pai tira-o do sepulcro.Neste momento o rapaz consegue fugir e procurar ajuda.Encontra o
grande
feiticeiro bom, o único capaz de derotar o seu pai.
Este trava uma grande luta com o pai do menino. Ele é vencido e o bem triunfa!A idade do rapaz seria congelada para este conseguir ir para uma escola de feitiçaria e aproveitar o tempo perdido. Torna-se um grande feiticeiro.Mas este não era como o pai. Este deu a volta ao mundo fazeñdo o bem em honra á sua mãe.
Adptado de:
http://rpghpgroup.blogspot.com/2009/07/lendas-magicas-lenda-do-sepulcro-caiado.html ( consultado a 28 de Maio de 2010)
Muitos são aqueles
que contam que
um dia , numa pequena terra
que uma mulher que era torturada pelo marido quando ainda estava grávida. A mulher vivia no covis de Down Sunney, um bairro mágico extremamente miseravel. O seu marido era mágico.
Deseperada devido ser constanemente espancada pelo marido fugiu. Teve a criança numa pensão.A dona desta ajudou-a ao ver a situação dela.
Passaram-se anos e o pai do bébe descobriu a localização da mulher e do filho.Ameçou-a.Mesmo sendo ameaçada das mais terrivéis maldições.Ao proteger o seu filho a pobre mulher morre.
A criança acabaria por ficar com o pai com 5 anos de idade.
O menino lembrava-se da mãe muitas vezes. O pai pos o menino num sepulcro caiado de branco
onde só era alimentado de vez em quando. Os anos foram passando e o rapaz continuava enterrado vivo magicamente.
Um dia o pai tira-o do sepulcro.Neste momento o rapaz consegue fugir e procurar ajuda.Encontra o
grande
feiticeiro bom, o único capaz de derotar o seu pai.
Este trava uma grande luta com o pai do menino. Ele é vencido e o bem triunfa!A idade do rapaz seria congelada para este conseguir ir para uma escola de feitiçaria e aproveitar o tempo perdido. Torna-se um grande feiticeiro.Mas este não era como o pai. Este deu a volta ao mundo fazeñdo o bem em honra á sua mãe.
Adptado de:
http://rpghpgroup.blogspot.com/2009/07/lendas-magicas-lenda-do-sepulcro-caiado.html ( consultado a 28 de Maio de 2010)
A cor dos olhos - uma história de amor
A cor dos olhos
Á muito tempo atrás, numa pequena aldeia, de África viviam Fati e Issa.
Fati estava a dormir numa esteira.Dormia sempre de barriga para baixo. Enquanto ela dormia Issa sonhava. Estava deitada de costas, a dormir tranquilamente na cabana da mãe.
Numa linda manhã, Fati convidou Issa para ir com ele à pesca, ao rio que passava perto da localidade.
-Issa, vens ou não pescar?
-Vou, mas… e se o peixe não morde?
-Ficamos à espera.
Issa era cega e por isso, seguia-lhe os passos.
Fati viu pássaros a dar reviravoltas perto das folhas de uma grande árvore.
Tinha posto na cabeça um lenço para se proteger do Sol. Tal como Fati, sentia o sol a queimar-lhe os ombros como se estivesse numa grande fogueira.
Finalmente tinham chegado ao rio.
Fati preparou uma linha para Issa e outra para ele.
Deitaram-nas à água. Passou algum tempo.
Fati inclinou-se para Issa e murmurou-lhe, quase a morder-lhe a orelha:
-
Não te mexas, vou andar alguns passos.
-Porquê?
-O sol está muito forte. Talvez encontre uma arvore para ficarmos á sombra
Fati, com a linha entre os dedos, estava tão imóvel como uma velha termiteira, quando sentiu um abanão na mão. Quando sentiu o segundo abanão, foi como se estivesse à espera dele, precisamente naquele momento. Puxou com um gesto seco e, quando ouviu a água a salpicar, não teve dúvidas: era mesmo um peixe que tinha mordido o isco e que ela estava a pescar. Com cuidado, para não assustar nada nem ninguém, levantou-se, puxando sempre a linha com a mão.
Agarrou o pequeno peixe que dançava agarrado ao isco.
Disse em voz alta, para si própria: "É de certeza uma carpa, uma carpa pequena e linda."
―
Uma carpa que preferiria voltar para a água em vez de assar ao sol — respondeu-lhe uma voz.
―
És tu, Fati?
―
Não é o Fati ,sou eu ― respondeu-lhe a carpa.
―
Mas quem está a falar? ― perguntou Issa.
Não obteve resposta. Pensou que havia sonhado.
Com cuidado, tirou o peixe do isco.
―
Ufa, obrigado. Assim está melhor ― ouviu.
―
Mas de quem é esta voz que não conheço?
―
É minha. Sou a carpa que acabas de pescar, não vês?
―
Não. Tenho olhos mas não vejo. Sou cega.
A carpa, que era menos medrosa do que uma tartaruga e mais faladora do que qualquer outro añimal que eu alguma vez vi , continuou a falar.
―
―
Será que me podes dizer o teu nome, tu que me pescaste?
Issa.
―
Issa, se voltares a pôr-me na água do riacho, posso dar-te o mais belo dos presentes.
― Qual é o mais belo dos presentes?
― É o que quiseres… exactamente o que quiseres
― Não existe o mais belo dos presentes.
Issa, pôs-se a rir e disse ao peixe:
-
Pequeno peixe, podes ofender Deus com essas mentiras.
― Não estou a mentir. Este poder foi-me dado por Ele.
― Então faz-me ver o mundo com os meus dois olhos.
― O mundo inteiro?
―O mundo inteiro.
Sem pensar duas vezes, o pequeno peixe disse a Issa:
― Pega em duas das minhas escamas, e põe uma em cada olho.
―E depois?
―Depois, nada. É tudo. Verás o que quiseres ver.
Issa
pegou em duas escamas e fez o que a carpa lhe mandara. E de repente Issa começa a ver o mundo de verdade.Os seus dois olhos haviam tocado o mundo!
― Agora, podes ver quase tudo ― disse-lhe a carpa.
― Porquê "quase"?
― Podes ver tudo, excepto os teus olhos. Com os próprios olhos, ninguém pode ver os seus próprios olhos.
Issa
pôs o pequeno peixe no riacho e ele continuou a viver como um peixe na água.
Fati voltara. Aparentemente não encontrara nenhuma sombra freca.
Issa
, que nunca o tinha visto, viu-o aproximar-se.
―
Fati,
estou a reconhecer-te.
―
É lógico, porque me conheces.
―
Reconheço-te com os meus olhos, não apenas com os ouvidos!
Fati
tinha parado a dois passos de Issa.
Olhava-a bem de perto, e assim podia ver-lhe os olhos. Exclamou:
―
Mas o que é que se passa? Lavaste os olhos no céu?
―
E por que dizes isso?
―
Fati, os teus olhos estão azuis como o céu. Continuas negra mas tens os olhos cor do céu!
Fati contou-lhe tudo.
Quando chegaram à aldeia, Fati ficou espantada por ver um só mundo com os dois olhos.
No dia seguinte, de manhã, ouviram a aldeia a murmurar.
Fati que
continuava a dar-lhe a mão, escutou as vozes ao mesmo tempo que ela.
Viram uma pequena multidão a aproximar-se
Tinham a boca cheia de maldades e mentiras.
Gritavam.
A seguir, chegaram mais pessoas
da aldeia. Eram piores do que animais loucos e selvagens
Gritavam:
―
Bruxa!
―
Issa,
vai-te embora!
―
Não passas de uma bastarda do céu!
―
Bruxa azul! Deixa-nos, vai-te embora para sempre, tu e os teus olhos azuis!
―
Excremento de abutre!
Puseram-se a atirar-lhe pedras e Issa
não encontrou outra solução senão fugir.Fati,
que tentara defendê-la, teve de fazer o mesmo.
Depois de uma longa corrida, chegaram ao fundo, ao fim do fim, um pouco mais longe do que o horizonte.
―
Issa gosto muito de ti.
―
Não tens medo dos meus olhos?
― Issa eu gosto de ti. É a única coisa que importa.
Tinham-se sentado frente a frente, à sombra de uma grande e velha arvore.
Issa perguntou:
―
Será que fechando os olhos, acabamos com a maldade?
―
Não… não se acaba com nada. Se fechares os olhos, não acabas com nada. Só foges dos probelmas.
Calaram-se. Issa tomou as mãos de Fati nas suas. Issa
tinha dois olhos para ver e chorar. Murmurou-lhe:
―
Eles têm medo. Estão cativos do medo que têm, e o medo faz esquecer o coração…
Nesse dia, nesse tempo, que se parecia muito com o tempo de hoje, Fati e Issa tinham o coração ferido como uma velha carcaça.
Levantaram-se e afastaram-se ainda mais da aldeia, talvez para encontrar algo mais além...
Muitas estações das chuvas deram lugar a muitas estações secas.
E ontem, na aldeia, um grande pássaro negro pousou na bela árvore vermelha florida. Era um calau.
Um calau negro de olhos azuis. Sim, negro de olhos azuis! Todos o acharam belo.
Este calau era um sinal. Logo que parou na grande árvore da aldeia, Fati e Issa chegaram.
Fati sorria tal como Issa. Foi ele
quem disse:
―
Bom dia, estávamos tão longe há tanto tempo… eis-nos aqui, os dois.
―
Bom dia!
―
Bom dia…
Foram muitos os que lhes ofereceram a água das boas-vindas. Pediram-lhes desculpa.
No dia seguinte, Fati
começou a construir a cabana deles. Surgia um grande romance.
Tal como acontecera com os pais deles, foi na sua aldeia que tiveram os filhos.
E foi assim.
Foi quimbanda quem mo disse.
Adpatado de:
Yves Pinguilly, Florence Koenig
La couleur des yeux
Autrement Jeunesse, 2001
Á muito tempo atrás, numa pequena aldeia, de África viviam Fati e Issa.
Fati estava a dormir numa esteira.Dormia sempre de barriga para baixo. Enquanto ela dormia Issa sonhava. Estava deitada de costas, a dormir tranquilamente na cabana da mãe.
Numa linda manhã, Fati convidou Issa para ir com ele à pesca, ao rio que passava perto da localidade.
-Issa, vens ou não pescar?
-Vou, mas… e se o peixe não morde?
-Ficamos à espera.
Partiram com ele à frente, como sempre.
Issa era cega e por isso, seguia-lhe os passos.
A mãe dela, como todas as mães da aldeia, era boa cozinheira. O pai conhecia os remédios contra as serpentes e outros animais venenosos.Mas nem o pai nem a mãe sabiam a cura para o mal da filha.Fati e Issa caminhavam,agora, juntos num estreito carreiro
Issa ouviu-os.
Tinha posto na cabeça um lenço para se proteger do Sol. Tal como Fati, sentia o sol a queimar-lhe os ombros como se estivesse numa grande fogueira.
Finalmente tinham chegado ao rio.
Fati preparou uma linha para Issa e outra para ele.
Deitaram-nas à água. Passou algum tempo.
Fati inclinou-se para Issa e murmurou-lhe, quase a morder-lhe a orelha:
-
Não te mexas, vou andar alguns passos.
-Porquê?
-O sol está muito forte. Talvez encontre uma arvore para ficarmos á sombra
Fati, com a linha entre os dedos, estava tão imóvel como uma velha termiteira, quando sentiu um abanão na mão. Quando sentiu o segundo abanão, foi como se estivesse à espera dele, precisamente naquele momento. Puxou com um gesto seco e, quando ouviu a água a salpicar, não teve dúvidas: era mesmo um peixe que tinha mordido o isco e que ela estava a pescar. Com cuidado, para não assustar nada nem ninguém, levantou-se, puxando sempre a linha com a mão.
Agarrou o pequeno peixe que dançava agarrado ao isco.
Disse em voz alta, para si própria: "É de certeza uma carpa, uma carpa pequena e linda."
―
Uma carpa que preferiria voltar para a água em vez de assar ao sol — respondeu-lhe uma voz.
―
És tu, Fati?
―
Não é o Fati ,sou eu ― respondeu-lhe a carpa.
―
Mas quem está a falar? ― perguntou Issa.
Não obteve resposta. Pensou que havia sonhado.
Com cuidado, tirou o peixe do isco.
―
Ufa, obrigado. Assim está melhor ― ouviu.
―
Mas de quem é esta voz que não conheço?
―
É minha. Sou a carpa que acabas de pescar, não vês?
―
Não. Tenho olhos mas não vejo. Sou cega.
A carpa, que era menos medrosa do que uma tartaruga e mais faladora do que qualquer outro añimal que eu alguma vez vi , continuou a falar.
―
―
Será que me podes dizer o teu nome, tu que me pescaste?
Issa.
―
Issa, se voltares a pôr-me na água do riacho, posso dar-te o mais belo dos presentes.
― Qual é o mais belo dos presentes?
― É o que quiseres… exactamente o que quiseres
― Não existe o mais belo dos presentes.
Issa, pôs-se a rir e disse ao peixe:
-
Pequeno peixe, podes ofender Deus com essas mentiras.
― Não estou a mentir. Este poder foi-me dado por Ele.
― Então faz-me ver o mundo com os meus dois olhos.
― O mundo inteiro?
―O mundo inteiro.
Sem pensar duas vezes, o pequeno peixe disse a Issa:
― Pega em duas das minhas escamas, e põe uma em cada olho.
―E depois?
―Depois, nada. É tudo. Verás o que quiseres ver.
Issa
pegou em duas escamas e fez o que a carpa lhe mandara. E de repente Issa começa a ver o mundo de verdade.Os seus dois olhos haviam tocado o mundo!
― Agora, podes ver quase tudo ― disse-lhe a carpa.
― Porquê "quase"?
― Podes ver tudo, excepto os teus olhos. Com os próprios olhos, ninguém pode ver os seus próprios olhos.
Issa
pôs o pequeno peixe no riacho e ele continuou a viver como um peixe na água.
Fati voltara. Aparentemente não encontrara nenhuma sombra freca.
Issa
, que nunca o tinha visto, viu-o aproximar-se.
―
Fati,
estou a reconhecer-te.
―
É lógico, porque me conheces.
―
Reconheço-te com os meus olhos, não apenas com os ouvidos!
Fati
tinha parado a dois passos de Issa.
Olhava-a bem de perto, e assim podia ver-lhe os olhos. Exclamou:
―
Mas o que é que se passa? Lavaste os olhos no céu?
―
E por que dizes isso?
―
Fati, os teus olhos estão azuis como o céu. Continuas negra mas tens os olhos cor do céu!
Fati contou-lhe tudo.
Quando chegaram à aldeia, Fati ficou espantada por ver um só mundo com os dois olhos.
No dia seguinte, de manhã, ouviram a aldeia a murmurar.
Fati que
continuava a dar-lhe a mão, escutou as vozes ao mesmo tempo que ela.
Viram uma pequena multidão a aproximar-se
Tinham a boca cheia de maldades e mentiras.
Gritavam.
A seguir, chegaram mais pessoas
da aldeia. Eram piores do que animais loucos e selvagens
Gritavam:
―
Bruxa!
―
Issa,
vai-te embora!
―
Não passas de uma bastarda do céu!
―
Bruxa azul! Deixa-nos, vai-te embora para sempre, tu e os teus olhos azuis!
―
Excremento de abutre!
Puseram-se a atirar-lhe pedras e Issa
não encontrou outra solução senão fugir.Fati,
que tentara defendê-la, teve de fazer o mesmo.
Depois de uma longa corrida, chegaram ao fundo, ao fim do fim, um pouco mais longe do que o horizonte.
―
Issa gosto muito de ti.
―
Não tens medo dos meus olhos?
― Issa eu gosto de ti. É a única coisa que importa.
Tinham-se sentado frente a frente, à sombra de uma grande e velha arvore.
Issa perguntou:
―
Será que fechando os olhos, acabamos com a maldade?
―
Não… não se acaba com nada. Se fechares os olhos, não acabas com nada. Só foges dos probelmas.
Calaram-se. Issa tomou as mãos de Fati nas suas. Issa
tinha dois olhos para ver e chorar. Murmurou-lhe:
―
Eles têm medo. Estão cativos do medo que têm, e o medo faz esquecer o coração…
Nesse dia, nesse tempo, que se parecia muito com o tempo de hoje, Fati e Issa tinham o coração ferido como uma velha carcaça.
Levantaram-se e afastaram-se ainda mais da aldeia, talvez para encontrar algo mais além...
Muitas estações das chuvas deram lugar a muitas estações secas.
E ontem, na aldeia, um grande pássaro negro pousou na bela árvore vermelha florida. Era um calau.
Um calau negro de olhos azuis. Sim, negro de olhos azuis! Todos o acharam belo.
Este calau era um sinal. Logo que parou na grande árvore da aldeia, Fati e Issa chegaram.
Fati sorria tal como Issa. Foi ele
quem disse:
―
Bom dia, estávamos tão longe há tanto tempo… eis-nos aqui, os dois.
―
Bom dia!
―
Bom dia…
Foram muitos os que lhes ofereceram a água das boas-vindas. Pediram-lhes desculpa.
No dia seguinte, Fati
começou a construir a cabana deles. Surgia um grande romance.
Tal como acontecera com os pais deles, foi na sua aldeia que tiveram os filhos.
E foi assim.
Foi quimbanda quem mo disse.
Adpatado de:
Yves Pinguilly, Florence Koenig
La couleur des yeux
Autrement Jeunesse, 2001
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